Fogo saiu do meu peito enquanto me olhava
no espelho.
Meus olhos piscaram e se apagara a luz.
A pequena chama flutuava no escuro
iluminado por ela.
Os gatos lá fora brigam.
O cachorro late.
Outro fogo aparece do solo, esse era feio.
O outro bonito e sagrado.
Os dois fogos flutuavam no ar escuro em
que pouca era iluminação dada por eles mesmos.
O fogo feio entra no meu intelecto e me
perturba. O fogo lindo entra em meus olhos e me faz ver o céu e o inferno.
Na verdade, só o exterior do céu, a
atmosfera revestida de um fogo glorioso era protegida. Não conheci a glória
dentro do ilimitado céu.
Dava volta no mundo perdido flutuando como
um espírito.
As águas não poderiam mais ficar lá, não
poderia haver refresco, e dos oceanos, dos rios, e dos mares elas iam sendo
levadas para o alto. O céu se abre por um tempo.
Abismos e disseminações.
Miríades e miríades. Demônios e desumanos.
Todo mundo se pegando, no sentido bárbaro da expressão, alguns somente
apanhavam.
Agressores sofriam, porque apanhavam também,
e muito.
Eu lamentava pelos que só levavam murros e
chutes e não conseguiam se defender, as sortes desses eram apenas instantes de
alívio.
Acontece que todos estavam na pior. A
Terra era único inferno do Universo. E o céu, o Universo, como foi dito antes,
era protegido – pelo sagrado fogo maravilhoso de Deus.
Os demônios tentavam fugir, eram poderosos
e voavam – sem asas. Mas seus poderes não eram capazes de furar o céu. Culpa de
Satan, líder na guerra perdida contra Deus; ele por fim nesse tormento era o
que mais apanhava, mesmo sendo o mais potente ser daquele terrível lugar, todos
queriam bater nele.
Depois que todos se rebelavam contra ele e
o flagelava, ele voltava mais forte, e o querubim decadente dobrava a dor
daqueles que o transpassaram. E isso era uma repetição constante.
Era uma guerra infinita:
Posses de armas e espadas. Uns com armas
pesadas, outros com as mais leves. Mesmo que alguns tinham ambos, alguns só
tinham espadas, alguns somente escudos (e esse alívio por essa posse não era
total, e nem pra sempre), os escudos tinham que ser roubados; os escudos são
constantemente caçados. Escudo era ouro ali. Diamantes são fezes.
O solo era ardente, as lágrimas
constantes.
Todo mundo se odeia, só ficaram os maus.
Os que foram estupradores são os que mais
sofrem, pois não conseguem mais serem como foram, e eles agora é que são
eternamente estuprados, ao mesmo tempo torturados.
Os soberbos são os mais humilhados.
Os que eram opressores agora são os mais
oprimidos.
Mas, todos estavam danados, ninguém se
safava, nem mesmo Satanás.
Nesse momento, o inferno na superfície se
abre de todos os lados. Caem todos para o meio começando uma pauleira de golpes
– socos e chutes, todos contra todos.
Ai dos que eram afligidos pelo potente
Satan, aliás, todos iriam se deparar com ele uma hora, nesse eternal combate
que todos, e até ele sofre.
Nessa hora, creio que precisei sentir um
momento de intensa dor. E uma força me levou até o querubim das trevas. Coitado
de mim por um tempo. Ao menos fui capaz de dar um forte chute na sua cara.
Graças a Deus aquilo foi um apocalipse
para mim, uma revelação.
Sumo do terror e volto ao meu cotidiano.
No chuveiro: refrigério.
Lucas Pestana
facebook e instagram: @lucaspestana702